Etimológicamente, arterioesclerosis significa endurecimento
das artérias.
Classicamente, no termo arterioesclerosis se incluem
três entidades diferentes: aterosclerosis, esclerose clarificante da media ou doença de Mönckeberg e arteriolosclerosis.
Vou utilizar o termo arterioesclerosis como sinónimo
de aterosclerosis.
A aterosclerosis é uma doença caracterizada pelo
desenvolvimento de múltiplas lesões focais, chamadas placas de ateroma, na parede da aorta e as artérias de grande e médio
calibre.
Essas placas estão compostas por lípidos, como
o colesterol, e por células inflamatórias, como os monócitos, que desde o sangue penetram no interior da parede arterial.
Uma vez dentro desta, os monócitos atacam o colesterol
e se convertem em células espumosas.
Estas células provocam uma série de mudanças na
parede que provocam o crescimento desordenado das células musculares e a formação de tecido fibroso.
No final, a placa é composta por uma mistura de
elementos diferentes, o que lhe confere a denominação de ateroma, que significa cola.
No momento actual, a primeira causa de morte no
Ocidente são as doenças cardiovasculares relacionadas com a aterosclerosis.
A metade das mortes produzidas cada ano se deve
à aterosclerosis.
Calculamos que no ano 2020 a aterosclerosis será
a primeira causa de mortalidade em todo mundo.
A isso contribuirão de forma determinante dois
factores que facilitam o seu desenvolvimento, de um lado, o progressivo envelhecimento da população mundial e, de outro
lado, a incorporação dos hábitos de vida ocidentais (principalmente, a alimentação excessivamente rica em gorduras e calorias,
e a vida desordenada e stressada na actividade profissional.
Como se produz?
Tal como mencionei anteriormente, para que se inicie
a formação de uma placa de ateroma é preciso que dentro da parede arterial penetrem substâncias e células que estão no sangue.
Em condições normais, isso não sucede porque o sangue está separado da parede arterial por uma barreira que é o endotélio.
Actualmente, sabe-se que diversos factores podem
danificar de tal modo o endotélio que este deixa de actuar como uma barreira.
Esses factores são conhecidos como fatores de risco
de aterosclerosis.
Os principais fatores de risco são três:
- A hipertensão arterial (presença de cifras de
pressão arterial superiores a 139/89 mm Hg).
- A hipercolesterolemia (existência de concentrações
sanguíneas de colesterol superiores a 220 mg/dl)
- O tabagismo.
Nos últimos anos, demonstrou-se que outros factores
também contribuem para o desenvolvimento da aterosclerosis.
É o caso:
- Diabetes mellitus.
- Obesidade.
- Sedentarismo.
- Menopausa.
Em qualquer caso, todos estes factores promovem
o desenvolvimento de aterosclerosis quando se dão numa pessoa com predisposição genética para isso.
Hoje em dia já se conhecem diversas alterações
genéticas que propiciam a aterosclerosis e cabe esperar pelo conhecimento do genoma humano na sua totalidade, para se poder
identificar a tempo e de forma fiável as pessoas com tendência para esta situação.
A aterosclerosis é um processo que evolui da seguinte
maneira:
- A formação das placas de ateroma se inicia invariavelmente
em quase todos os indivíduos na primeira ou segunda década da vida, de forma que pode começar a ter manifestações clínicas
na terça e quarta década, acrescentando-se a sua prevalência de forma exponencial a partir da quinta década, para atingir
um impacto máximo na sexta, sétima e oitava décadas.
- A aparição de manifestações clínicas numa pessoa
com aterosclerosis supõe que alguma das placas de ateroma que apresenta se complicou, o que significa que a placa se rompeu
e que seus componentes entraram em contacto com o sangue, especialmente com as plaquetas. Isto põe em marcha a formação de
um trombo que obstrui a artéria e dificulta a chegada de sangue ao local que essa artéria irriga (o que em medicina se conhece
como isquemia, isto é, falta de irrigação).
Segundo o tamanho do trombo, assim será a severidade
da obstrução e, consequentemente, a intensidade da isquemia e a gravidade das manifestações clínicas.
Os casos mais importantes são aqueles nos quais
a obstrução é completa e a falta total de sangue produz a morte (enfarte) de uma parte do órgão afectado.
Sintomas:
- Os quadros clínicos que podem apresentar as pessoas
com aterosclerosis complicada são variados.
Quando
a obstrução afecta as artérias cerebrais podem aparecer desde ataques de isquemia cerebral transitória, até um acidente vascular
cerebral agudo (AVC) com sequelas mais ou menos permanentes.
Quando a obstrução se dá nas artérias coronárias
pode aparecer desde angina de peito, até ao enfarte agudo de miocárdio.
Quando
a obstrução afecta às artérias renais pode facilitar-se o desenvolvimento de insuficiência renal ou aparecer um tipo especial
de hipertensão denominada reno-vascular.
A obstrução
das artérias das extremidades inferiores pode dar lugar a um quadro de fragilidade intermitente que se caracteriza pela presença
de dores musculares desencadeadas pela marcha e que a incapacitam.
Por último,
a presença de lesões ateroscleróticas complicadas na aorta favorece o desenvolvimento de aneurismas.
Como se detecta?
Tal como mencionei anteriormente, a aterosclerosis
pode demorar muito tempo a dar lugar a manifestações clínicas. Por isso, é preciso detectá-la precocemente, antes que as placas
de ateroma se agravem. Para isso é preciso realizar exames periódicos de saúde (revisões vasculares) desde a terceira década
da vida, e especialmente naquelas pessoas com antecedentes familiares de alguns dos quadros clínicos mencionados anteriormente.
Nessas revisões se presta uma importância especial ao estudo dos factores de risco que comentei previamente.
Ademais, através da realização de certas análises
também se avaliam determinadas marcas de dano vascular.
Finalmente, dispõe-se já de técnicas de imagem
vascular (ecografia doppler, ressonância nuclear magnética, etc.) que permitem detectar as placas de ateroma e, inclusive,
identificar aquelas que podem criar um quadro clínico complicado.
Com toda a informação recolhida numa revisão vascular
se pode chegar a quantificar o risco que cada pessoa concreta pode desenvolver num quadro clínico devido à complicação de
uma placa.
Por exemplo, pode-se predizer com grande fiabilidade
a percentagem de possibilidades de apresentar um enfarte agudo de miocárdio ao longo dos anos.
Como prevenir?
- A melhor maneira de combater a aterosclerosis
radica na sua prevenção primária.
- Para
isso se deve actuar a três níveis.
Em primeiro
lugar há que levar uma vida sã, o que significa:
AQUI VAI FICAR TODO O MUNDO CONTRA
MIM
1) Seguir uma dieta cardiovascular saudável (evitando
as gordurosas animais e o excesso de calorias, e favorecendo o consumo de azeite de oliveira, verduras e frutas).
2) Realizar exercício físico periodicamente, regularmente
(cada dia se deve caminhar no mínimo uma hora ou correr suavemente, nadar e andar de bicicleta um mínimo de meia hora).
3) Eliminar o fumo de maneira total e definitiva.
4) Tentar eliminar as situações stressantes da
vida quotidiana ou, quando isso não tenha sido possível, vivê-las com uma perspectiva positiva e minimamente auto lesiva.
Em segundo lugar, as pessoas com hipertensão arterial
e/ou com hipercolesterolemia têm de seguir tratamento farmacológico (fármacos (anti-hipertensivos e fármacos (hipolipemiantes)
de forma continuada para manter cifras de pressão arterial por baixo de 130/85 milímetros de mercúrio (mmHg) e cifras de colesterol
inferiores a 200 e miligramas por decilitro (mg/dl).
Em terceiro lugar, em pessoas com certas alterações
poderão ser sujeitas a tratamentos específicos segundo o critério do seu médico (por exemplo, nas mulheres com predisposição
à aterosclerosis que tiveram a menopausa poderia valorizar-se o tratamento hormonal substitutivo). Nos casos em que já surgiram
manifestações clínicas o médico instaurará o tratamento pertinente para cada caso individualizado, e simultaneamente instaurará
medidas de prevenção secundária (por exemplo, aspirina a baixas doses) destinadas a impedir a aparição de novas complicações.